Força Bruta. Frederico Coelho. 2011

Como um refrão de partido alto, a pintura de Gabriela Machado nos atinge em cheio. As telas, como as possíveis plantas que suas imagens emulam, alimentam-se do que há ao seu redor. Mas esse olhar não só se vê, como também escuta. Porque ter música ao redor das telas é fundamental para que esse universo estético ganhe vida em gesto. A música é a argamassa poética que cola as imagens, o espaço inventado em que a artista põe em circulação o que seus olhos e seu corpo pedem diante das telas em branco, prontas para serem compostas. Para Gabriela, a liberdade de um pincel em suas mãos vibra no mesmo diapasão que a liberdade de bater no couro do pandeiro nas rodas de samba da cidade. A pintura e a música trocam uma energia sonora que embala sua pesquisa pictórica e nos apresenta a exposição que o Centro Cultural de São Paulo oferece ao público. Nas telas de Gabriela Machado, onde se veem cores, ouve-se música. Onde se vê movimento, sentimos a cadência dessa Força Bruta que restitui a beleza do mundo em cada um de nós. Uma força que, se colocarmos bem os ouvidos nas telas, quem sabe, possa-se escutar.

Frederico Coelho

Pesquisador, ensaísta e professor de Literatura Brasileira e Artes Cênicas da PUC-Rio. É doutor em literatura pela PUC-Rio e mestre em história pelo IFCS/UFRJ. Foi assistente de curadoria do MAM-RJ (2009/2010). Organizou o livro Museu de Arte Moderna – Arquitetura e Construção (Cobogó, 2010) e publicou os livros Eu brasileiro confesso minha culpa e meu pecado – cultura marginal no Brasil das décadas de 1960 e 1970 (Civilização Brasileira 2010) e Livro ou livro-me – os escritos babilônicos de Hélio Oiticica(EdUERJ, 2010).